terça-feira, 2 de novembro de 2010

Para o Céu.

Ela se sentava em frente a janela. Preparava-se para observar mais um dia passar por seus olhos. Olhava a vizinhança passar, respondia ao sorriso de alguns, e tentava adivinhar a tristeza de outros. Olhava para o céu também, e observava a sua sutil mudança de um azul-claro-amanhecido, para um laranja-vermelho-entardecido e finalmente para um azul-escuro-intenso-anoitecido. Todo dia era a mesma rotina, quem passava pela casa de n° 7, já saberia o par de olhos castanhos que os observariam. Alguns sentiam empatia, outros sentiam pena, outros apenas passavam apressados sem se darem conta de sua presença. 

Num dia bastante estranho, o céu encontrava-se com uma cor nunca antes observada por seus olhos. Afinal, era uma espécie de rosa, com vermelho, com laranja, e um sutil azul no final da transição de cores, para indicar que ainda estava longe de entardecer. Essa mistura a intrigou bastante, e pela primeira vez em anos, a menina decidiu sair da janela, para dar uma volta pela rua. Ela pegou suas muletas, e sem mesmo avisar, saiu de casa ficando um tempo na calçada, olhando o céu de cores confusas. Era a sua primeira vez longe da poltrona que a confortava, mas suas pernas nem mesmo se cansaram, até pareciam mais fortes. Ela ficou parada por mais um tempo ainda, até que decidisse caminhar. Foi olhando para outras janelas abertas, com outros olhos curiosos que também olhavam para o céu, sem nem ao menos percebê-la ali.

Andou até o final da rua e percebeu alguns sorrisos em sua direção, mas esses vinham de pessoas que não conhecia, o que lhe pareceu bastante estranho, uma vez que já tinha visto passar quase todas as pessoas da cidade. Alguns outros olhares vinham em sua direção e pareciam temerosos e sombrios. Um desses olhares ela reconheceu. Pertencia a um homem muito bonito e bem arrumado que sempre passava com muita pressa.

A menina continou a andar até perceber que já não precisava da ajuda de suas muletas. Largou-as numa esquina próxima, e continuou a caminhar por uma subida bastante íngrime, mas que no entanto nem a pareceu cansativa. Ela continuou subindo subindo, até que viu que o céu estava bem próximo.
Em casa, sua mãe, já triste, tentava acordá-la, sabendo ser esforço em vão.

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